Caminho Central Via Atlântico

Entre, e percorra pelo seu passo um território de gentes, jeitos e paisagens únicas.

Caminho Central via Atlântico

A “Via Atlântico” é uma variante do Caminho Português Central do qual se desvia em Castro Verde ao encontro do Atlântico em Porto Covo, a “Finisterra” do Alentejo! Desde o Campo Branco de Castro Verde, onde o 1º rei de Portugal terá travado a lendária Batalha de Ourique contra os exércitos muçulmanos, a 25 julho de 1139, o Caminho prossegue por trilhos ancestrais imersos na ruralidade e no montado alentejano com passagem em Ourique, Garvão e Cercal, encontrando o mar e percorrendo a costa vicentina entre Pessegueiro, Porto Covo e Sines – porto de escala do Caminho Marítimo de Santiago – retornando ao Caminho Português Central em Santiago do Cacém. Na senda dos itinerários da Reconquista cristã a sul do Tejo, liderada pelos Freires Cavaleiros da Ordem de Santiago, atravessamos os territórios das antigas Comendas da Ordem e observamos o importante património histórico-religioso dedicado à devoção a Santiago na sua figuração de mítico guerreiro dos exércitos cristãos.
Percorrer o Caminho Via Atlântico é uma viagem de descoberta gerada pela História e pela devoção, mas também pelo maravilhoso Alentejo do lado onde abraça o Mar!

Castro Verde  Ourique

Se vai iniciar o seu Caminho em Castro Verde, saiba que tem muitos motivos para se deter por aqui mais algum tempo e explorar o diálogo fascinante entre a História e a Natureza do Campo Branco..

Para além da imprescindível visita à Basílica Real e ao Museu das Lucernas, vale a pena a deslocação a S. Pedro das Cabeças e à Igreja Matriz de Entradas, construída sobre uma Igreja medieval devotada a Santiago Maior.

Ourique  Garvão

Em Ourique – capital do Porco Preto Alentejano – a maior riqueza é gastronómica, alimentada a bolotas, e servida às fatias, em secretos ou em outras saborosas iguarias. Do castelo que foi da Ordem de Santiago já não resta pedra, pelo que, de barriga cheia e apreciada a vista do alto do Miradouro, apressamo-nos estrada fora ao longo de largos quilómetros de vistas amplas, desabrigadas e desabitadas, tingidas de pastos verdes e montado. Distraídos com a solidão atravessamos uma ponte disfarçada sobre um insignificante fio de água que não imagina a dimensão épica que vem a ter o Rio Sado. Os Montes sucedem-se, alguns já recuperados da ruína de outrora, compondo uma paisagem melancólica mas expectante da próxima chegada a Garvão.

Garvão  Colos

“Garuan” é vila milenar cuja ocupação remonta à Idade do Ferro e à qual os ocupantes árabes deram o nome atual, daquela que era a “Aranni” para os romanos. Foi o Mestre da Ordem de Santiago D. Paio Peres Correia, conquistador dos Algarves, que atribuiu foral no séc. XIII a este importante pólo de itinerários onde, desde tempos imemoriais, se cruzavam várias estradas e vias que faziam a ligação entre o Norte e o Sul do território. Saímos em direção à estação da Funcheira, para nos surpreendermos com o belo edifício do apeadeiro, o qual ostenta um telhado coberto de formas de… vieiras! A partir daqui a paisagem altera-se profundamente e o Caminho torna-se mais sinuoso e acidentado, evoluindo por trilhos e caminhos rurais através de sucessivos cerros revestidos a Montado e de vales verdejantes. Até Colos vai ser uma etapa agradável e de limitada extensão, o que nos permitirá apreciar melhor os detalhes da paisagem e deter à conversa no café da aldeia branca de Santa Luzia.

Colos  Cercal

Desde o alto da colina onde se ergue a Igreja Paroquial (que ostenta a cruz espatária da Ordem de Santiago estampada na frontaria), percebemos estar no seio de um antigo povoado fortificado, erguido em ponto estratégico entre planícies de montado e as montanhas da serra que se estendem no nosso Caminho até ao Cercal… Hoje em dia Colos surpreende pela simbiose entre a ruralidade alentejana e os hábitos modernos dos muitos estrangeiros que encontraram refúgio nesta freguesia de Odemira. Abastecemo-nos bem para enfrentar a mais desafiante etapa do Caminho, traçada em plena Natureza serrana, com escassas oportunidades de contato humano limitadas a alguns casais e montes dispersos. E se quisermos acrescentar vistas surpreendentes sobre a paisagem serrana, havemos de nos desviar ligeiramente e subir até à Ermida de Nª Senhora das Neves! Chegando ao sítio da Aldeia do Cano, alguns quilómetros antes do Cercal, a paisagem ruraliza-se e os trilhos florestais dão lugar a amplos estradões que nos conduzem até ao perímetro urbano.

Cercal Porto Covo

No Cercal já se respiram as brisas marítimas da costa vicentina, que nos vão acompanhar ao longo de toda a etapa de hoje. Mas, antes, não podemos deixar de visitar a Igreja Matriz, em cujo retábulo se salienta uma escultura com a imagem de São Tiago, e de nos deliciarmos com a doçaria local. Do Cercal saímos por itinerário coincidente com a Rota Vicentina por um trilho ondulante embrenhados num bosque abundante de diversidade. De repente, a mancha verde dá lugar a uma ampla planície com mar ao fundo… Pelo trilho arenoso chegamos ao areal da Praia da Ilha do Pessegueiro, protegida pelo Forte de Nossa Senhora da Queimada, construído sobre a falésia do nosso cabo “Finisterra”. Imperioso observar daqui o belíssimo pôr do sol, mas sem esquecer que nos falta ainda uma hora de Caminho ao longo da praia e sobre as arribas da baía de Porto Covo, até entrarmos na vila, atravessando o porto de pesca molhando os pés… (Nota: No acesso à praia da Ilha do Pessegueiro, os viajantes em BTT deverão desviar pela estrada para Porto Covo)

Porto Covo Sines

Porto Covo terá pouca “História” para contar, mas em contrapartida tem das melhores praias do mundo! Difícil será daqui sair (provavelmente não sairemos hoje…) sem experimentar algumas das sucessivas praias de enseada que se abrem nas falésias e deleitar-nos com as ofertas gastronómicas à beira-mar que aliam o melhor do mar e do Alentejo. Em São Torpes procuramos a base de um antigo cruzeiro que identifica o local onde terá sido construída a primeira ermida cristã da Península Ibérica, testemunhando o desembarque e sepultura do corpo daquele santo mártir, cuja lenda muito se assemelha à do “traslatio” de Santiago e se relaciona igualmente com a cidade francesa de Saint-Tropez. Daqui em diante há que cumprir um percurso menos agradável mas que termina com entusiasmo à vista de Sines e dos seus múltiplos atrativos.

Sines Santiago do Cacém

Escrever sobre Sines e seus múltiplos pontos de interesse não cabe aqui. A Arqueologia, a Igreja Matriz, o Castelo, Vasco da Gama e as Descobertas, a Ordem de Santiago e a Ordem de Cristo, a Pesca, a Gastronomia e as Tradições… tudo isto e mais, obriga a passar antes pelo Posto de Turismo e a agendar visitas. Os mais apressados seguirão para norte ao longo do passeio pedonal coincidente com o percurso pedestre TransAlentejo, junto ao mar, acedendo a um passadiço que nos leva até à Praia da Costa Norte. Por entre pinhais e terrenos rurais, com algumas incontornáveis instalações industriais pelo meio, prosseguimos até às aldeias de Relvas Verdes e Dompel. Aqui permitimo-nos ligeiro descanso antes de abordarmos a entrada na zona urbana e o acesso ao casco histórico de Santiago do Cacém, em cuja Igreja Matriz termina esta Via Atlântico.