Caminho Nascente

Fronteira < > Cabeço de Vide

Etapa 14

Segundo a lenda, foi no cabeço de um monte que os sobreviventes da peste que se seguiu a um ataque sarraceno se refugiaram e que, recuperando a saúde, dali em diante lhe chamaram “Cabeço de Vida”. É para Cabeço de Vide que caminhamos, onde o povoamento romano se sobrepôs a ocupações anteriores, conhecidas desde o Neolítico, e deixou a forte influência na região, passando aqui uma estrada subsidiária da importante via que ligava Lisboa a Mérida e que servia as Termas de Sulfúrea, onde foram encontradas ruínas de um balneário e muitos outros vestígios arqueológicos desta época.

Mais recentemente, foi também por este vale que andaram investigadores da NASA, quando se descobriu que o pH incomum (11,5) das águas hiperalcalinas deste local indiciava condições hidrogeológicas muito semelhantes às da geologia detetada em Marte!

Cabeço de Vide tornou-se vila autónoma por foral passado por D. Manuel I em 1512. O pelourinho, símbolo da autonomia municipal, data dessa altura. É um elemento patrimonial simples e rústico, com fuste octogonal e remate cónico em forma de pinha. No capitel figuram dois pequenos escudos em relevo, simbolizando a aliança entre as armas da coroa e as do concelho. O pelourinho deve ocupar o local para o qual foi projetado, diante da antiga casa da câmara e cadeia, nas imediações do castelo.

Um castelo que, ainda que não sejam conhecidas as razões que levaram à sua construção, deve datar de uma época avançada na Idade Média, presumivelmente o século XIV. O portal principal, aberto na fachada sul, ostenta a cruz da Ordem de Avis. No interior, subsistem estruturas habitacionais, uma cisterna e um poço, o que atesta a ocupação do interior do recinto durante os tempos finais da Idade Média. Terá sido provavelmente nesta altura que se envolveu o castelo com uma barbacã, última etapa de constituição da fortaleza antes da sua perda de utilidade face à guerra de pirobalística que triunfou na Península Ibérica a partir do século XVII.

Termas de Sulfúrea

Termas de Sulfúrea

Nesta pacata vila de calçada antiga e casinhas medievais encontramos a Capela do Calvário, um curioso templo de planta circular, edificado em momento não determinado dos séculos XVI ou XVII. É possível que a sua construção tenha sido determinada por uma romaria regional ao lugar do Calvário, mas, em 1758, essa tradição já se havia perdido. Nesta data, a capela não tinha qualquer festividade e era pertença da Ordem de Avis. No interior, salienta-se a cúpula pintada de azul celeste e a pintura com representação do Calvário.

E encontramos ainda a Igreja de Nossa Senhora das Candeias, que já existia em 1538, altura em que o pároco era Pedro Leborato, um professo da Ordem de Avis. O templo, embora algo singelo, possui elementos do século XVI, em concreto o portal principal, que é de lintel reto encimado por dois pequenos pináculos nas extremidades e cruz a eixo. O interior é de nave única, porém alargando-se em capelas próximo da cabeceira. Os retábulos são tardo-barrocos e profusamente policromados, sendo o retábulo-mor aberto por grande trono com a imagem do orago.

Igreja do Espírito Santo

Uma vaga tradição dá conta de que a igreja já existia em 1211, o que é de duvidar. O monumento foi integralmente reconstruído em meados do século XVI, segundo um projeto manuelino de gosto mudéjar, como se testemunha pelas ameias que sobrepujam as fachadas do templo. O portal principal, em arco de volta perfeita moldurado, inscreve-se já na transição para o gosto renascentista. O interior é de nave única coberta por abóbada nervurada, datando o retábulo-mor já do século XIX. No adro da igreja exibe-se um cruzeiro quinhentista, contemporâneo da construção do templo, coroado por cruz na qual se retratou Cristo Crucificado e Nossa Senhora da Piedade, sendo o conjunto encimado por uma pomba do Espírito Santo.

Capela da Sra. dos Anjos

Capela da Sra. dos Anjos

e também…

Festa de Verão de Cabeço de Vide − Julho

Termas da Sulfúrea de Cabeço de Vide

Conhecidas desde a ocupação romana, as Termas da Sulfúrea são hoje um importante centro terapêutico e de lazer, enquadrado num belo jardim e na paisagem alentejana e indicado para doenças osteo-articulares e reumatismais, das vias respiratórias superiores e inferiores, alérgicas e de pele.

Esta é uma etapa que gostamos de fazer em dias quentes. Curta e plana, pela nova ecopista que substituiu a linha ferroviária desativada, e a terminar com a frescura de um mergulho na piscina fluvial de águas medicinais das Termas da Sulfúrea! Animados com esta perspetiva, descemos pela avenida dos Heróis dos Atoleiros em direção à antiga estação ferroviária. No trajeto, temos a oportunidade de visitar o Centro de Interpretação da Batalha de Atoleiros. Neste museu, descobrimos os heróis anónimos desta decisiva batalha na História. Através de tecnologia especial, sentimo-nos no centro do campo de batalha e vemos o decorrer da famosa “tática do quadrado”, uma técnica militar de inspiração inglesa, que levou o exército português à vitória.

No final da avenida, entramos na ecopista, à esquerda, junto ao antigo posto de cancela que fechava a Estrada de Santo Amaro quando ia passar o comboio. Trocamos a urbe pelo campo e circulamos tranquilamente ao lado de sucessivos montes, como se de comboio fossemos. Entre as oliveiras, cereais e ribeiras, o Caminho leva-nos até à ponte sobre a Ribeira Grande, de onde se obtêm boas perspetivas fotográficas sobre este vale verdejante. Ao longe, no horizonte, a vista já alcança o nosso destino, as casas brancas de Cabeço de Vide.

Ao quilómetro 10 desviamo-nos da ecopista para subir a Rua da Associação até à entrada de Cabeço de Vide. Duzentos metros percorridos, chegamos a um cruzamento e temos a possibilidade de escolher a via da direita, que a tabuleta indica dirigir-se para a Quinta do Cabeçote e que também dá acesso direto e mais rápido às Termas da Sulfúrea.

Se estivermos bem de abastecimentos e decididos a pernoitar nas termas, esta pode ser uma alternativa a ponderar. Naquela quinta, não podemos perder a demonstração de falcoaria, antiga arte que subsiste em alguns locais do Alentejo e Ribatejo. A sudoeste, na Barragem da Póvoa, podemos também, com o material da quinta, pescar fartos barbos e achigãs.

Caso contrário, ou se preferirmos conhecer primeiro a frondosa vila de Cabeço de Vide, subimos a Rua da Associação para, logo a seguir à Praça de Touros, virar à direita até à larga Avenida da Libertação. Decididos a explorar todos os recantos da vila, subimos pela avenida até à junta de Freguesia, sensivelmente a meio, do lado esquerdo. Já de saco cheio e todas as vielas calcorreadas, descemos pela Rua do Santo Mártir e, depois, por uma estreita azinhaga rural até ao local das termas. Antes de o dia terminar, ainda vamos a banhos nestas águas únicas no país, momento apreciado pela parte de nós que, literalmente, mais “perto” fica do Caminho!

Dicas

Leve sempre água, mantimentos,protetor solar, chapéu, impermeável, calçado confortável e um mapa.

Apoio

  Frontaxis

 Supermercado

Café

 Forja Bar

Entidades Municipais

 Junta de Freguesia de Cabeço de Vide\
+351 245 634 206

Saúde

 Posto Local de Saúde Atendimento de Cabeço de Vide

 Farmácia

Pontos de Interesse

 Igreja do Espírito Santo: No adro da igreja exibe-se um cruzeiro quinhentista, contemporâneo da construção do templo, coroado por cruz na qual se retratou Cristo Crucificado e Nossa Senhora da Piedade, sendo o conjunto encimado por uma pomba do Espírito Santo.

 Igreja Matriz de Cabeço de Vide: A Igreja Matriz é um templo amplo, de duas naves, que nos faz pensar em épocas de intensa religiosidade, sem efeitos artísticos e de arquitectura popular. Contrariando frontalmente algumas autoridades, esta igreja nunca teve, de facto ou em projecto, três naves.

  Fortaleza e Castro de Cabeço de Vide: Estas duas sondagens vêm confirmar a habitabilidade do castro de Cabeço de Vide, designada por Fortaleza Residencial, dos finais do século XV ao XVIII, que teria necessariamente uma rede de saneamento básico detectado já em vários pontos do Cabeço. Os poucos artefactos do quotidiano comprovam, para já, essa preocupação em duas fases históricas distintas: medieval e moderna.

  Torre do Relógio de Cabeço de Vide: A subida para o relógio e sino faz-se pelo interior da Casa da Câmara. Não se lhe sabe a idade. O antigo relógio está voltado a sudeste e o novo para sudoeste.

  Castelo de Cabeço de Vide: O Castelo de Cabeço de Vide foi possivelmente construído ou reconstruído no século XIV sobre as ruínas românicas, das quais aproveita algumas das bases que ainda ficavam de pé, como estruturas de moradias habitacionais, uns silos e um poço e até uma cisterna.

  Cruzeiro de Cabeço de Vide: Compõe-se de uma coluna simples de mármore, assente sobre quatro degraus de forma rectangular, com capitel sobre o qual está uma cruz de braços largos, com a imagem de Cristo de um lado, e do outro, Nossa Senhora da Piedade, sobrepondo-a a pomba simbólica do Espírito Santo.

CONTACTOS ÚTEIS

Emergência: 112
Incêndios Florestais: 117
GNR de Cabeço de Vide: +351 245 634 103

CÓDIGO DE CONDUTA

Não saia do percurso marcado e sinalizado. Não se aproxime de precipícios. Preste atenção às marcações. Não deite lixo orgânico ou inorgânico durante o percurso, leve um saco para esse efeito. Se vir lixo, recolha-o, ajude-nos a manter os Caminhos limpos. Cuidado com o gado, não incomode os animais. Deixe a Natureza intacta. Não recolha plantas, animais ou rochas. Evite fazer ruído. Respeite a propriedade privada, feche portões e cancelas. Não faça lume e tenha cuidado com os cigarros. Não vandalize a sinalização dos Caminhos.